terça-feira, outubro 27, 2009

A Fruta

Sinto um gosto doce em minha boca
De uma fruta que segurei entre os dedos
Com gosto sério e selvagem e pele viva
E com o cheiro mais sincero do desejo

Sinto a vontade na mordida profunda
No suco que escorre dos meus lábios,
aaaescoa pelos vaus dos meus poros
Espalha o sabor por todo o corpo

São momentos de pura delícia
Da mais açucarada polpa e do êxtase
De fruta predileta mordida

São lábios que tocam o doce
Néctar que suga a alma por dentro
E migra do tato físico ao paraíso

O calor dos verões incontáveis
Sob a brisa imaculada de uma ilha
Nos olhos que flamejam e nos sorrisos
Que apalpam o milagre e florescem a vida

É a sensação única do encontro
De uma língua irascível e assassina
Com o chão firme dos prazeres de uma fruta
Doce, doce em alma, paixão e delícia.

sábado, outubro 24, 2009

Sem título

“As pessoas me perguntam como é ser casada com um santo. É chato, eu respondo. Antes casar-se com o diabo. Já experimentei um pouco do céu em minha vida e também um pouco do inferno, e prefiro o inferno. Mas o que você diz é verdade, Tom. Ele é um homem excelente.”

Da personagem Tolitha, do livro O Príncipe das Marés, de Pat Conroy.

Quando me perguntam se acredito no céu, eu, que não tenho religião por opção e nenhuma crença semelhante, respondo:

- Sim, você está nele. Ah, e no inferno também.

Não tenho nada contra as crenças de ninguém. Pelo contrário, acho muito bonita a fé. Tenho a minha também, que reside em mim e em todas as outras pessoas que estão nesse mundo e fora dele também.

Porém acredito que o bem e o mal estão aí, cada um com seus 50% de chances de vingar, bem como o mesmo tanto de influência em nossas vidas.

A alegria e a tristeza estão intimamente ligadas com a tendência que cada um tem de se surpreender e acreditar no que é bom e no que é mau. No que presta e no que não presta. Tem gente que vê a beleza sublime de uma paisagem e se choca com isso sentindo um conforto no coração. Outras se chocam com o que as fere, machuca de verdade, é feio e o resto é apenas comum. Essa é a diferença de quem é feliz com a vida ou não, na minha concepção.

A mídia, por exemplo, atende muito mais a quem necessita ser chocado com o que fere, machuca. Isso vender melhor por que o bonito não chama tanta atenção com suas imagens, é sublime. O feio é impactante, fascinante, requer mais sentimentos e menos lógica por ser entendido instantaneamente pelos instintos.

Por isso a tragédia tem um som tão claro para a maioria, enquanto uma bonita paisagem pode passar despercebida. Feliz quem pertence à minoria.

Eu procuro.

Não há noite de briga que me faça acordar sem pensar “Hoje vale a pena vestir a camiseta verde. Não vou dar trela para ontem, já foi.”

E quando os religiosos dizem:
- Deus deu o dom da vida e só ele pode tirar.

Penso:
- Sim. E o faz.
E, nesse meio tempo, só podemos ajustar o balanço fino do bem e do mau, do sim e do não e do certo e do errado.

Santa Inquisição

- Eilor, você se acha bonito?
- Hoje não. Às vezes eu me acho bonito sim. Falando de aparência física, né?
- É. E você se considera sexy?
- Tem vezes que quero e consigo ser sim e noutras faço sem querer. Mas é algo que acontece, não o tempo todo como algumas pessoas conseguem ser. Por que?
- Quero saber só. E você se acha interessante?
- Acho sim! Isso eu sei ser. Mas também sei como não ser quando quero.
- Legal... o que mais você acha?
- Acho melhor você parar de perguntar.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Ode ao Mar Revolto

Nem todos os sentimentos existem para serem mostrados.
Nem todas as pessoas estão prontas para percebê-los.

Sentimentos são a forma que encontramos para nos associar a tudo.
Para nos identificar além da existência física com o mundo invisível que nos cerca.

Sentimentos nos protegem ou encorajam, bons ou maus são um porto seguro em meio ao oceano das emoções.

Um porto flutuante que nos engana por pensarmos lançar âncora num atracadouro.
Que, sem notarmos, também é navio.

Um navio que não sabemos controlar.
Não podemos, navega somente.

Independe do nosso comando e, quando percebemos, nos leva para longe de tudo o que mais amamos.

E amar, meu caro, também é um sentimento.